As novas possibilidades da Educação Financeira

As novas possibilidades da Educação Financeira

A importância da Educação Financeira tem sido uma pauta consistente em discussões de mercado, refletindo uma preocupação crescente com o endividamento das famílias brasileiras. Em fevereiro de 2023, esse endividamento alcançou um patamar preocupante de 78,3%, conforme indicado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), conduzida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). 

Para enfrentar esse desafio, o setor financeiro tem promovido uma série de iniciativas. Inúmeras instituições têm reconhecido o valor da educação financeira como uma ferramenta essencial e melhorado o suporte aos consumidores por meio de consultores financeiros. Além disso, presenciamos o surgimento de novas organizações dedicadas a simplificar a comunicação de produtos financeiros, tornando-a acessível a um público mais amplo.

O Open Finance trouxe novas soluções para o mercado, como os agregadores financeiros. Desde então, muitos bancos começaram a consolidar informações de diferentes instituições em uma única plataforma. Isso tem promovido maior organização e transparência, oferecendo indicadores e ferramentas que auxiliam no monitoramento dos gastos e no gerenciamento da vida financeira dos usuários.

Na prática, contudo, essas soluções ainda exigem um comprometimento ativo dos usuários para que a mudança de hábitos financeiros se efetue, o que, convenhamos, não é uma tarefa simples.

E se existisse uma forma inteligente e automática que nos ajudasse nesse processo de mudança?

Esse tipo de solução já é uma realidade no Reino Unido e está prevista para chegar ao Brasil em 2024. São os chamados "smart savers", inovações geradas a partir do Open Finance que fazem uso de decisões automatizadas para aprimorar o bem-estar financeiro dos usuários. Essas ferramentas são criadas para agir proativamente na gestão de finanças pessoais, promovendo uma saúde financeira melhor e mais acessível.

Na prática

Como usuário, você tem a possibilidade de configurar sua conta para realizar operações financeiras automaticamente segundo regras pré-estabelecidas. Isso elimina a necessidade de pensar ativamente sobre economizar dinheiro, pois o processo ocorre de maneira autônoma.

Considere, por exemplo, uma compra de R$97,00. Você poderia ativar a funcionalidade de "arredondamento automático", onde os R$3,00 restantes para completar R$100,00 seriam automaticamente transferidos para a sua conta poupança. Imagine o potencial de economia ao final de um mês repleto de transações.

“Guardar R$50 toda vez que janto fora” – esta é uma funcionalidade do Plum, uma empresa britânica do setor financeiro, que permite estabelecer condicionantes específicas a determinados estabelecimentos, fortalecendo suas economias sempre que você optar por gastar nesses locais.

Além disso, é possível automatizar suas finanças por completo. Há empresas que disponibilizam algoritmos capazes de analisar receitas e despesas, destinando uma porção adequada para a poupança sem que isso comprometa suas finanças.

O diferencial nesse nicho é a criatividade do mercado. Você pode criar gatilhos baseados nas suas atividades cotidianas que facilitam a economia de dinheiro aos poucos e que permitem que você perceba o impacto do efeito cumulativo ao final de cada ano.

Tornando isso possível

O que promove a existência de iniciativas como essa no Reino Unido — e, sem dúvida, também no Brasil — é o progresso do Open Finance. A infraestrutura bancária está facilitando a criação de novas soluções financeiras, colocando o controle financeiro literalmente nas mãos dos clientes.

O primeiro passo é a leitura de contas. Quando os clientes conectam suas contas de diferentes instituições em um sistema unificado, é possível obter uma visão 360 da sua situação financeira, tornando as recomendações e análises mais precisas e personalizadas.

O segundo passo é a movimentação de saldos das contas, por meio de Serviços de Iniciação de Pagamentos. Com a autorização do usuário, as plataformas podem movimentar fundos e executar micro-investimentos de maneira automática, dispensando esforço adicional por parte do cliente. O usuário decide uma única vez e se beneficia por tanto tempo quanto considerar relevante.

Com essas duas frentes em funcionamento, as possibilidades de automação para gerar bem-estar financeiro para as famílias brasileiras são infinitas.

No Brasil, a expectativa é alta

O Brasil estabeleceu uma excelente estrutura para o Open Finance, garantindo uma ampla capacidade de leitura de dados em todo o território nacional. Nas principais instituições financeiras, já se observam agregadores financeiros contribuindo ativamente para aprimorar a gestão financeira das famílias, por meio de categorização de despesas, fornecimento de indicadores, consolidação de informações e outros benefícios.

Olhando para o futuro, especificamente a partir de 2024, a evolução se dará na esfera da movimentação de contas, mais precisamente em Serviços de Iniciação de Pagamentos. Serão introduzidas novas funcionalidades, como Pagamentos Variáveis Recorrentes e Transferências Inteligentes, que representarão a primeira camada programática do Pix. Isso possibilitará a criação de casos de uso muito interessantes, similares aos mencionados anteriormente.

As expectativas são elevadas, pois sem dúvida essas inovações prometem melhorar diretamente a vida de milhões de brasileiros.